Assembleia gaúcha proíbe uso da língua inglesa sem tradução

Escrito por Carina Fragozo

Há poucas horas foi aprovada lei que determina a proibição de termos estrangeiros sem tradução. A proposta do deputado Raul Carrion (ou seria “carry on”?)  foi aceita nesta terça-feira, por 26 votos a 24, e obriga a tradução de termos estrangeiros sempre que houver equivalente em português. Segundo Carrion, o projeto pretende preservar a língua portuguesa dos abusos, da proliferação de termos de outras línguas sem necessidade. Nas palavras do deputado: “o que vemos hoje são palavras consolidadas sendo substituídas por modismos, macaquices e papagaiadas de gente que despreza o português e se sente melhor usando o inglês, sem às vezes nem saber pronunciar” (conforme o site http://www.jusbrasil.com.br/).
Confesso que fiquei surpresa e até mesmo chocada  quando li sobre tal lei. Parece que parte de nossos representantes não percebe que é praticamente impossível evitar o uso de palavras estrangeiras no mundo globalizado em que vivemos. Talvez também não percebam que muitas das palavras que utilizamos em nosso cotidiano já foram consideradas “estrangeirismos” algum dia e hoje estão completamente incorporadas ao nosso vocabulário e inclusive em nossos dicionários, como coquetel (cocktail), futebol (football) e sanduíche (sandwich).

A maneira que esses termos são incorporados ao português varia muito. Na maioria dos casos, a pronúncia da palavras é adaptada à fonologia do português, o que também causa alterações na escrita (como a palavra scanner, pronunciada [iskaner]).
Em muitos casos, as palavras da lingua inglesa são adapadas por uma certa “lacuna linguística” como, por exemplo, as palavras background, feedback, fitness, impeachment marketing, que não possuem uma tradução direta para o português. Pela mesma dificuldade de tradução dos termos para o português, muitas palavras relacionadas à informática mantêm sua escrita original: boot, link, modem, scanner, on-line, off-line and site, por exemplo.
Além disso, muitas palavras estrangeiras são incluídas ao nosso vocabulário mesmo sem necessidade linguística, como credit card (cartão de crédito), fast-food (lanche rápido), high tech (alta tecnologia), hot-dog (cachorro quente), pub (bar) e sex symbol (símbolo sexual), por exemplo. Geralmente, tais palavras começam a ser utilizadas pela mídia e passam a ser utilizadas pelas pessoas,o que vem acontecendo desde o século 19, por influência da cultura britânica.
Concordo que “tecnicamente” não há necessidade de utilizar-se a palavra sale em vez liquidação em lojas, mas tal uso é resultado da influência da cultura americana no Brasil e no mundo. Chamar a incorporação de termos estrangeiros à nossa língua de “papagaiada” demonstra o quão leigo o deputado é com relação à Linguística. E se, por hipótese, o governador Tarso Genro sancionar a lei? Como serão as punições para quem não respeitá-la? Na verdade, nada irá mudar.
As línguas são dinâmicas e estão em constante mudança, e propor uma lei para controlar o incontrolável é mais um exemplo da inutilidade das discussões promovidas pelos políticos.


Para quem tem interesse em ler mais sobre o assunto: leia meu artigo na página 114, no link a seguir: http://www.apirs.com.br/proceedings/14th_proceedings.pdf

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