Entrevista com Cristiane Corsetti: sobre Teacher Training e Teacher Development

Escrito por Carina Fragozo

A entrevistada de outubro é Cristiane Corsetti ([email protected]), doutoranda em Linguística pela PUC-RS e professora / consultora acadêmica da Cultura Inglesa no Rio Grande do Sul. Conheci a Cristiane durante meu mestrado na PUC e, posteriormente, ela foi minha “teacher trainer” quando trabalhei na Cultura Inglesa. Ela leciona inglês há mais de 25 anos e ministrou diversos treinamentos para professores, assim como seminários de “Teacher Development”. Nesta entrevista, Cristiane conta como se tornou “teacher trainer”, quais são as maiores dificuldades enfrentadas por professores iniciantes e ainda dá dicas para quem deseja ser professor de inglês. Confira!

EiB: Como você se tornou teacher trainer?

CC: Na época em que trabalhava no “Britannia Special English Studies” em Porto Alegre como coordenadora acadêmica, surgiu a demanda de um curso de treinamento local para professores em geral. Sendo assim, elaboramos o programa de um curso de 100 horas, que contemplava tanto sessões de metodologia como aulas práticas. As sessões foram desenvolvidas por mim e por outros coordenadores acadêmicos da instituição. Durante um mês, os professores/aprendizes participavam de seminários de metodologia pela manhã e apresentavam aula práticas para alunos voluntários à tarde. Geralmente oportunizávamos turmas em dois níveis de proficiência: elementar e intermediário. Os professores/aprendizes ficavam responsáveis por partes individuais de aulas e faziam a sua apresentação para os alunos, colegas e tutores. Ao final de cada aula, dávamos feedback em grupo. Sem dúvida, esta era a parte mais enriquecedora do curso, pois os professores eram solicitados a refletir sobre metodologia e as suas práticas efetivas. Mais adiante, o Britannia ofereceu o curso DOTE (Diploma for Overseas Teachers of English) para os seus professores mais experientes, no qual trabalhei como tutora assistente. Esta qualificação da Universidade de Cambridge é um grande diferencial no desenvolvimento de professores, pois os candidatos exitosos são capazes de planejar e executar aulas em contextos diversos, embasados em metodologia e maximizando oportunidades de aprendizado. O curso teve a duração de 1 ano e meio e envolveu aulas sobre metodologia de ensino, ensaios sobre metodologia, observações de aulas individuais e provas.

EiB: Quais são maiores dificuldades que os professores enfrentam ao iniciar a sua carreira de sala de aula?

CC: Primeiramente, há a dificuldade em planejar aulas que sejam coesas e adequadas aos objetivos de seus aprendizes. Nem todas as escolas de inglês oferecem aos seus professores planos de aula e materiais suplementares para os seus cursos. Em muitos casos, estes recebem somente um livro-texto. Nestas situações, destacam-se aqueles professores que conseguem planejar suas aulas, utilizando o livro-texto, mas ao mesmo, incluindo atividades extras que sejam pertinentes e relevantes aos objetivos de aula. Esta combinação pode oportunizar aulas mais variadas e dinâmicas, sem esquecer-se das necessidades individuais dos alunos. Em segundo lugar, há a dificuldade em gerenciar os alunos em sala de aula. Este gerenciamento engloba uma postura segura do professor, a habilidade de lidar com questões de disciplina, uma clareza em dar instruções, uma facilidade de organizar materiais e alunos em grupos e pares durante atividades. Por fim, há a dificuldade em facilitar o próprio aprendizado. Isto inclui a habilidade de expor o conteúdo de instrução de forma clara, que requer uma reflexão e preparação anterior, saber fazer as perguntas corretas que auxiliam o aprendizado, oferecer aos alunos oportunidades de prática que potencializam a produção posterior, prestar atenção na produção individual dos aprendizes, corrigir os alunos de forma apropriada, e principalmente, dar feedback aos mesmos.

EiB: Você acredita que os melhores professores têm um “dom” natural para ensinar ou qualquer pessoa pode ser um bom professor, desde que receba um treinamento eficiente?

CC: Pergunta interessante! Na época em que estava prestes a me matricular para o Vestibular, recordo de minha mãe me perguntando se eu não preferiria fazer “Letras – Licenciatura” ao invés de “Letras-Bacharelado”. Sou formada como tradutora de inglês/alemão/português. Veementemente disse que não, pois desde esta época era apaixonada pelo sentido das palavras. Já na faculdade, me inscrevi no curso “Introductory Teacher Training Course”, um curso teórico e prático da International House, totalmente motivada pela tutora, que havia sido minha professora de inglês no nível avançado. Sem a mínima experiência e visivelmente nervosa, fiz a minha primeira apresentação de aula após 3 dias de curso, para alunos no nível básico. Me lembro até hoje do feedback de minha tutora, que disse: “Muito bom começo, Cris, mas não precisa gritar tanto senão os seus alunos vão ficar com dor de cabeça! Foi muito legal! Acabei me tornando professora de inglês logo após o curso. Nunca trabalhei com tradução! Me apaixonei pelo lado interpessoal da profissão. Na minha opinião, as pessoas podem sim serem treinadas para se tornarem professores. Claro que há profissionais que são melhores com crianças pequenas, outros com adolescentes, outros com preparação para exames, etc. Esta variação tem muito a ver com a personalidade, preferências , interesses e a motivação para desenvolvimento dos mesmos.

EiB: O que faz um professor se destacar em uma seleção para uma escola de idiomas?

CC: Partindo do pressuposto que professores podem ser treinados e desenvolvidos metodologicamente para oportunizar aprendizado, primeiramente candidatos devem possuir um domínio avançado da língua alvo. Considerando o Quadro Europeu Comum de Referência para Línguas, instituiç
ões de ensino geralmente exigem um nível mínimo C2, que representa proficiência operacional. Os professores de segunda língua, além de apresentarem conteúdos de aula, servem como modelos de input linguístico aos seus alunos. Em segundo lugar, a personalidade do professor e a forma como ele se coloca em sala de aula fazem toda a diferença. Não adianta um professor ser super fluente, ter mil diplomas, mas não conseguir criar uma atmosfera agradável e propícia ao aprendizado. Bons professores olham para os seus alunos, escutam o que os mesmos dizem, interagem de forma espontânea e os tratam de forma amigável e respeitosa. Por último, candidatos que já dominam práticas adequadas de ensino certamente se destacam, também incluindo práticas com ferramentas digitais.

EiB: Você acredita que a graduação em Letras seja fundamental para a qualificação de um professor de inglês, ou um bom treinamento já basta?

CC: Acho muito importante a valorização de nossa graduação em Letras. O curso de Letras oferece uma fundamentação teórica não necessariamente presente em todos os cursos de treinamento. Muitos treinamentos são meramente prescritivos, oferecendo uma listagem de práticas a serem adotadas. Muitos professores seguem tais práticas sem questioná-las ou sem refletir sobre a sua adequação ao contexto de ensino. Boas instituições de ensino possuem as suas próprias diretrizes e criam a sua metodologia seguindo certa fundamentação teórica, alinhada aos seus princípios. Professores com graduação em Letras levam certa vantagem, pois geralmente possuem um conhecimento mais amplo de linguística, literatura e metodologia de ensino, o que possibilita que sejam mais reflexivos e críticos. Mas saliento que professores que realmente almejam qualificarem-se, devem também procurar oportunidades de pós-graduação em Letras e áreas afins e qualificações mais avançadas de metodologia como ICELT e DELTA da Universidade de Cambridge, entre outros.

EiB: Quais são suas dicas para os leitores do blog que gostam da língua inglesa e desejam se tornar professores da língua?

CC: Em primeiro lugar, busquem conhecimentos. A internet é um repositório de informações. É possível ter acesso gratuito a ferramentas e projetos digitais, blogs, artigos, webinars e informações culturais. Em segundo lugar, planejem o seu desenvolvimento profissional, seja através de qualificações de língua, cursos de graduação e pós-graduação e cursos de metodologia. Um bom profissional está sempre em desenvolvimento e se redescobrindo e é curioso. Participem de congressos regionais e internacionais se possível. Façam apresentações. E por fim, busquem trabalhar em instituições nas quais vocês acreditam e que estejam alinhadas com o seus princípios morais, éticos e metodológicos. E mais importante, que ofereçam oportunidades de crescimento e desenvolvimento profissional.

EiB: Cris, muito obrigada pela sua participação!

Cerimônia de entrega dos certificados dos exames internacionais da Universidade de Cambridge,
Cultura Inglesa RS.


Fernanda de Marchi, Cristina Perna e Cristiane Corsetti no I American Pragmatics/V Intercultural Pragmatics Conference (University of North Carolina, Charlotte, USA)

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