Entrevista com Fernanda Fritsch: sobre bolsa Fulbright e o ensino de Português nos EUA

Escrito por Carina Fragozo
Fernanda no Central Park – NY
A entrevistada de abril é a professora/linguista Fernanda Serpa Fritsh, que está desde o ano passado vivendo na cidade de Orem, em Utah, nos Estados Unidos, lecionando a língua portuguesa para estudantes americanos através da bolsa Fulbright. Nesta entrevista, ela conta sobre o processo de seleção para participar do programa, sobre o apoio financeiro que recebe, sobre a experiência de lecionar Português no exterior, sobre a vida em Utah e ainda deixa uma mensagem para estudantes brasileiros que desejam fazer este tipo de intercâmbio.
Boa leitura!

EiB: Conte-nos sobre sua trajetória acadêmica.


FF: Comecei o curso de Letras em 2006, na PUCRS. Durante os quatro anos de graduação, fiz estágios dentro da própria instituição, desenvolvendo tanto ensino quanto pesquisa. Trabalhei como bolsista do Delfos e mais tarde estagiei no PET (Programa de Educação Tutorial). Quando me formei, em 2010 (concluí o curso de Letras – Licenciatura em Inglês/Português e respectivas literaturas), eu já sabia que queria seguir no mundo acadêmico. Participei da seleção de mestrado no mesmo ano, e iniciei o Mestrado em Linguística em 2011. Concluí o curso em 2013, e foi aí que a oportunidade da Fulbright bateu na minha porta. Após a defesa da dissertação, embarquei para os Estados Unidos para trabalhar como FLTA (Foreign Language Teaching Assistant), um programa promovido pela Fulbright, na Utah Valley University. Em maio desse ano, concluo o intercâmbio e volto ao Brasil. Pretendo iniciar o doutorado no próximo ano.

EiB: Quais as regras para participar do programa Fulbright?

FF: No caso especifíco do Programa FLTA, você deve ter graduação em Letras Inglês ou Inglês e Português. Não é necessário experiência de ensino, nem tão pouco nenhuma formação complementar. O que eles procuram mesmo, são jovens que sejam conhecedores de ambas as línguas e que estejam dispostos a ensinar sua língua materna durante 9 meses em uma universidade nos Estados Unidos. Eles dão prioridade a pessoas que tenham nenhuma ou pouca experiência no exterior e também a ex-bolsistas do Prouni. O intuito do Programa é dar ao professor a oportunidade de aperfeiçoar a língua inglesa e conhecer melhor a cultura sobre a qual ensina, ao mesmo tempo que ensina sua propria língua e cultura em um país onde a Língua Portuguesa é considerada uma língua crítica e o conhecimento sobre o Brasil é mínimo, e muitas vezes errado. O programa busca a compreensão entre as culturas.


EiB: Você recebe apoio financeiro? Ele é suficiente para “sobreviver”?
FF: Recebo sim. Todos os participantes do Programa Fulbright recebem. Porím o valor para cada FLTA é diferente. Depende da região onde você mora e das condições que lhe são oferecidas. Cada situação aqui é unica. Algumas universidades oferecem dorms, outras dão um apartamento, enquanto em outras a moradia é totalmente por sua conta. Algumas instituições também oferecem Meal Plan [auxílio alimentação], e outras pagam um ‘salário’ para ajudar com as despesas. No entanto, a Fulbright é a maior responsável pelo apoio financeiro, mas ela calcula o valor que lhe dará baseado no que a Universidade oferece e no preço do custo de vida da região onde você mora. Assim, quem mora na Geórgia precisa de bem menos dinheiro do que quem mora em Nova York. No meu caso, não recebo nada da Universidade, pago meu próprio aluguel e não tenho meal plan. Tudo o que recebo vem da Fulbright e com o valor devo cobrir todas as despesas. Porém a região onde eu moro é considerada uma das mais baratas dos EUA, logo minha bolsa não é muito alta não. Consigo sobreviver. Mas a palavra de ordem é economia. Além disso, as passagens de deslocamento entre Brasil e EUA, tanto a vinda quanto a volta, são oferecidas pela CAPES. Então é uma despesa a menos. E também temos direito a um plano de saúde, também pago pela Fulbright.

EiB: Como está sendo a experiência como professora nos Estados Unidos? É diferente de lecionar no Brasil?

FF: A experiência está sendo muito válida. Gosto de ser professora em qualquer lugar. A maior diferença que vejo é que aqui meus alunos aprendem Português porque querem, porque amam a língua mesmo, assim o interesse deles me parece muito maior. É mais prazeroso ensinar. Mas acho que não posso comparar o ensino do Brasil com o ensino daqui, por várias razões. Em primeiro lugar, o conteúdo que ensino é diferente. Por mais que sejam duas línguas estrangeiras, o inglês ocupa um papel de prestígio na sociedade brasileira, e todos têm quase que a obrigação de aprender inglês. Poucos aprendem porque amam a língua. Aqui o português não tem nada de prestígio, o envolvimento com a língua é puramente sentimental. Eles aprendem porque querem conversar com alguém que sabe o idioma, ou porque viajaram para o Brasil e acharam a língua bonita. Não tem o prestígio, nem a oportunidade de um emprego melhor. É diferente. Além disso, no Brasil eu costumava ensinar inglês em escolas de Ensino Médio e cursos de idiomas, onde o aluno aprende a língua porque é parte do currículo escolar ou porque o pai/mãe quer que ele aprenda. Aqui eu ensino Português dentro da Universidade. Nao é parte de nenhum currículo obrigatório, e não tem pai ou mãe para mandar o aluno escolher essa língua. Como disse, sinto que aprender Português é algo que eles fazem porque lhes dá prazer.

Alunos da Utah Valley University assistindo ao filme “Se eu fosse você” na noite de cinema brasileiro

EiB: Você está gostando de morar em Utah? Foi fácil fazer amigos?

FF: Para ser sincera, não. Utah é u
m estado com poucos atrativos para alguém sem carro. Tudo aqui é longe e as cidades não são planejadas para pedestres. Assim, tenho poucas opções de lazer e por isso acho meio chato. Porém fazer amizade aqui é fácil. O povo é bastante educado e atencioso, além de ter um número bastante grande de brasileiros nessa região. É comum você andar na rua e escutar alguém falando Português. Ou então, voce estar no mercado e alguém puxar conversa para lhe contar que já foi ao Brasil ou que conhece alguém que já foi. Fiz algumas amizades que com certeza levarei para o resto da vida aqui em Utah, brasileiros de todo o canto do Brasil, mas também alguns americanos que me acolheram como se eu fosse parte da família e já estão preparando o visto para irem me visitar no Brasil. 
EiB: O que você mais gosta de fazer na sua cidade?

FF: Como eu disse, as opções são poucas se você não tem carro. A maioria das atrações são ao ar livre, em resorts de ski ou trilhas de caminhada. Ou restaurantes. O povo aqui adora comer e isso é uma atração na cidade. Eu gosto de ir caminhar em um parque que tem aqui perto, tem um lago e a vista é muito bonita.

EiB: Deixe uma mensagem para os estudantes que desejam seguir seu exemplo.

FF: Eu diria que se você quer ser um FLTA, estude. O concurso é concorrido, e seu currículo pesa muito. Além disso, pesquise sobre o programa, converse com quem já foi, procure se informar de cada detalhe. O programa e muito bom mesmo, mas você tem que estar preparado, porque nem tudo é perfeito. Você vai passar por dificuldades, e é bom estar consciente disso. Mas, com certeza, vale muito a pena. 

EiB: Muito obrigada pela participação e por compartilhar suas experiências com os leitores do English in Brazil! 

FF: Obrigada vocês. Beijos.

Inverno em Orem, Utah
Fernanda em passeio a Las Vegas

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