O entrevistado de agosto é um professor de inglês conhecido por suas ideias inovadoras. Maurício Buchler já morou nos Estados Unidos, em Londres, já deu aulas de inglês na Austrália e inclusive foi palestrante do TED, uma fundação americana conhecida por suas conferências na Europa, Ásia e Estados Unidos. A partir de suas experiências em viagens, Maurício (também conhecido como “Mau”) criou o Tripppin, que ele chama de “Facebook para aprender inglês”. Através deste projeto, ele leciona inglês por Skype pelo mundo todo. Nesta entrevista, ele conta sobre sobre tudo isso e ainda opina sobre o papel da tecnologia no ensino de línguas estrangeiras e dá dicas para quem deseja aprender inglês online. Está imperdível, né? Ah, vale salientar que conheci o Maurício em um dos encontros do Real Life English aqui em São Paulo. Haverá um evento por aqui no mês que vem, então fiquem ligados!
EiB: Desde criança, você tem viajado para diversos lugares do mundo. Conte-nos sobre essas experiências.
MB: Amo morar fora! Meu pai é pesquisador e levava a familia pros países onde ele trabalhava. Nos mudamos pra Louisiana, no sul dos EUA, quando eu tinha 2 anos de idade. Quando voltamos, eu tinha 6 anos, conhecia Miami Beach, falava inglês perfeitamente… mas não sabia jogar futebol de botão (e não aprendi até hoje). Mudamos pros arredores de Londres quando eu tinha 11 anos. A molecada de lá não gostava de mim porque eu falava com sotaque americano, e porque era brasileiro, estrangeiro, diferente… Quando voltei, percebi que eu era o único da minha idade que tinha viajado pela Europa, mas também tinha me tornado um moleque brigão. Acho que o principal de morar fora, é o quanto você aprende sobre si mesmo, e o Brasil, quando volta.
EiB: Quando você deciciu se tornar professor de inglês?
MB: Acho que não fui eu que decidi ser professor de inglês. Foi a profissão que me pegou. Comecei a dar aulas em São Paulo quando eu tinha 18 anos. Eu tinha bombado o último ano de escola, e eu precisava fazer alguma coisa produtiva pros meus pais ficarem menos chateados comigo. Na época, eu nem pensava em ser professor de inglês, mas dar aula é uma coisa que sempre fiz com muita naturalidade. Sempre me interessei muito pelas pessoas e como cada pessoa aprende. Anos depois, quando percebi que poderia viajar o mundo como professor de inglês, não tive mais dúvidas do que queria fazer da vida.
EiB: O que é e como surgiu o Tripppin?
MB: O Tripppin nasceu da necessidade de tornar o ensino de inglês mais rápido, eficiente e divertido. Ninguém deveria ter de passar 10 anos tentando aprender inglês na escola. Pra tentar resolver esse problema, em 2004 eu criei The Lounge, uma escola de inglês que funcionava como uma academia. Alunos iam e vinham quando queriam e podiam fazer o que quisessem, contanto que fosse em inglês. E assim como nas academias, algumas pessoas pagavam, mas vinham pouco, então eu comecei a mandar lembretes via e-mail como se fossem episódios de uma novela. A novela se chamava Tripppin. Era a estória de um americano chamado Tripp que se perdia pelo mundo. Toda semana, eu enviava um capítulo novo da novela com questões pra serem respondidas quando a pessoa fosse ao Lounge. Disso nasceu o embrião do www.tripppin.com. Hoje, o Tripppin é um jogo que ensina inglês. É a aventura interativa de dois irmãos que viajam o mundo atrás de um tesouro. É uma plataforma que estimula você a praticar inglês, fazer novos amigos e conhecer o mundo. É o Facebook para aprender inglês.
EiB: Como surgiu a oportunidade de ser palestrante do TED?
MB: Em 2005, fui contratado pra ser professor de inglês na Austrália e no meu tempo livre, resolvi recriar o conceito do Lounge e da novela Tripppin, em formato digital. Eu dava aulas de inglês acadêmico pra uma turma de designers gráficos e consegui convencê-los a fazer um protótipo do meu projeto. O pessoal do TEDx em Melbourne viu o protótipo e pediu pra que eu fizesse uma palestra explicando o conceito. Basicamente, falei sobre a rigidez dos modelos acadêmicos atuais, como ignoram os diferentes estilos de aprendizado e como precisam ser complementados por sistemas que respeitem as aptidões naturais de cada um para que o ensino seja mais gratificante pra todos.
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EiB: Na sua opinião, qual o papel da tecnologia no ensino de línguas estrangeiras?
MB: Acredito que o papel da tecnologia no ensino em geral é de complementar e expandir o que já existe. Não precisamos recomeçar do zero. Precisamos reconhecer as vantagens e desvantagens de cada meio. A internet nos oferece muita inovação e nos traz mais informação, mais rápido. Obviamente, isso precisa ser aproveitado, mas por outro lado existem coisas que só o mundo real pode oferecer. Então, ao invés de tentar recriar situações de ensino do mundo real que já não funcionam tão bem, acho que precisamos repensar nossas práticas e atividades de ensino. Por exemplo, dou aulas de inglês via Skype pra uma turma no norte da Índia. Uso o www.tripppin.com como material de apoio porque funciona em tudo: celular, tablet, PC, Apple, Windows, etc… Basta ter internet. Mas o melhor é que o jogo não se restringe à internet. Ele te instrui a usar o que você aprendeu no Tripppin, em atividades no mundo real. Então, a turma na Índia fica no Tripppin jogando e aprendendo a semana toda. Quando nos falamos nas aulas via Skype, eu coordeno atividades que estimulam os alunos a praticar seus speaking skills comigo e com os colegas. É impressionante como funciona bem. Alunos que normalmente teriam só algumas horas de inglês por semana, agora têm acesso ilimitado. Batizaram o curso de Global Culture English e até o fim do ano será um curso certificado pelo governo indiano.
Aulas via Skype na Índia
EiB: Quais as suas dicas para os estudantes que buscam aprender inglês através de cursos online?
MB: Acho que o importante é achar um curso que realmente te motive a aprender. Você precisa achar um curso que te traga diversão (não apenas informação) porque senão você acaba ficando desmotivado. No entanto, muitos aplicativos e sites hoje se concentram só na diversão e isso também não funciona. Pra aprender inglês direito, você precisa de uma solução que integre diversão, motivação, ensino estruturado e cultura. Você precisa de Tripppin!
EiB: Muito obrigada por compartilhar suas experiências conosco, e parabéns pelas ideias inovadoras!
Aula em grupo via skype + Tripppin na India
Prof. Katie Burgess usando o Tripppin na China